Por José Renato Autílio
Durante anos, os influenciadores dominaram o palco digital com suas rotinas perfeitas, fotos e vídeos meticulosamente editados e recomendações que, muitas vezes, escondiam acordos comerciais pouco transparentes. Como publicitário que acompanhou a ascensão meteórica desse fenômeno desde os bastidores, eu vi marcas apostarem alto — e, muitas vezes, sem critério — nessa nova vitrine humana. Mas os tempos mudaram. E o público também.
Estamos vivendo o que muitos chamam de “era pós-influencer” — um momento de virada em que o encanto com o glamour digital deu lugar a algo mais sóbrio, mais crítico e, acima de tudo, mais real. O desgaste da fórmula: A fórmula do influenciador tradicional — vida perfeita, feed harmônico, publi disfarçado de dica — cansou. Não só pelo excesso, mas porque o consumidor de hoje é mais maduro, mais cético e menos disposto a comprar o que não enxerga como verdadeiro.
As redes sociais deixaram de ser palco apenas de ostentação para se tornarem um espelho mais nu da realidade. O que antes era aspiracional hoje parece inacessível. E o resultado disso é o desgaste da confiança. A autenticidade é a nova moeda. Estamos vendo surgir e crescer um novo tipo de criador: aquele que não tem milhões de seguidores, mas tem autoridade, contexto e coerência. São os chamados micro e nano influenciadores, que falam para poucos, mas com profundidade.
Mais importante do que o alcance bruto, agora é a capacidade de gerar conversa real, vínculo e identificação. O conteúdo “não polido” — aquele sem filtro, sem roteiro, direto do quarto bagunçado — virou símbolo de sinceridade. Plataformas como TikTok e até os bastidores do Instagram deixaram isso claro: as pessoas querem ver gente de verdade.
A Comunidade desta vez está acima do ego. Outro ponto central dessa nova fase é a mudança na estrutura da influência. O protagonismo do “eu” está dando lugar ao “nós”. Criadores coletivos, fóruns de conhecimento, grupos de interesses, artigos e newsletters colaborativas… tudo isso mostra que a influência está migrando para um formato mais comunitário, menos centralizado.
Na prática, isso significa que marcas que ainda procuram “o novo nome quente” da internet talvez estejam olhando para o lado errado. O futuro — e o presente — está na cocriação, na escuta ativa e na construção conjunta com o público.
A reputação está no centro. A era pós-influencer também é a era da reputação. O número de seguidores deixou de ser suficiente. O que conta agora é a credibilidade construída ao longo do tempo, a coerência entre discurso e prática e o valor real entregue para a audiência.
Movimentos onde criadores explicam por que não vale a pena comprar algo são sintomas claros de que a lógica do consumo sem reflexão está sendo questionada. E isso, para quem trabalha com comunicação, é uma baita oportunidade de criar abordagens mais inteligentes, éticas e relevantes.
O que isso tudo nos ensina? Como publicitário, vejo na era pós-influencer um convite. Um convite para voltarmos à essência da comunicação: escutar, entender e gerar conexão. Estamos saindo da era do barulho e entrando na era da proximidade estratégica. As marcas (incluindo as pessoais) que entenderem isso sairão na frente. As que continuarem buscando fórmulas mágicas e métricas vazias, vão acabar falando sozinhas.
E você, está pronto para influenciar de verdade?

